19 julho, 2012

Trocas

       As ondas do rádio já denunciavam o que ele sabia faz um tempo. Ele estava envelhecendo. Tinha trocado a badalagem de musicas eletronicas, as batidas, os riffs, os solos de rock pelo blues e pelo jazz. As paredes de sala, iluminadas pelo azul-tv pareciam mais confortáveis do que aquela cerveja com os amigos até tarde da noite. O café solitário das 18h, melhor que aquele restaurante caro e aquela batata (que ele tinha quase certeza que não era batata dessas de feira). O livro do topo da cama, aquele todo empoeirado que ele nunca tinha tocado já tinha um marca-página confortavelmente assentado na pagina 134. Ficar no computador até tarde, pra quem virava noites à fio, atualizando a mesma página, dando voltas entre e-mail, uma ou duas redes sociais e entre a luz laranja que acendia na barra de tarefas, para ele já era uma inutilidade sem precedentes. 


       O tempo passou. As coisas passaram. E mudaram. Ele nem percebeu direito. O que ele tinha percebido é que daquela frequência frenética, ele já tinha cansado. "Eu fiz muita coisa correndo, sem pensar direito, sem ver o que e com quem eu tinha feito". Hoje, a vontade de pouco fazer ou não fazer nada o tem cativado muito mais do que ser um "altamente-produtivo" sem causa. E ele realmente não sabe se isso é bom ou ruim. Os pesquisadores de universidades norte-americanas com certeza classificariam sua procrastinação como algo que provavelmente poderia balear seu coração por depressão e sobrepeso num prazo de 5, 10 anos. Eles mesmos dizem que a predisposição dos jovens à infartar por causa disso tem aumentado consideravelmente. Mas tudo bem, pelo menos ele sabia que ter deixado de lado aquela biblioteca de música tão barulhenta tem melhorado a sua audição. Se fez bem pro ouvido, deve chegar no coração também. 

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