28 novembro, 2010

Contador de Estrelas

Subiu de volta ao quarto. Não mais imerso naqueles pensamentos ruins que insistiam em martelar sua consciência, desligou o rádio, apagou a luz e abriu a janela. Viu o céu escuro, aberto, com tantas estrelas, mas tantas estrelas que se sentiu em outro lugar no espaço, em outra dimensão, em um universo paralelo, um universo só dele. Imaginou se haveria outros como ele em outras constelações, já que um ponto minúsculo no céu, visto daqui, pode ocultar um planeta semelhante a esse, com outros seres, talvez até iguais à nós. 
Perguntou-se se havia outros com os mesmos sonhos, pensamentos, ilusões, anseios, tristezas e alegrias que ele tinha. Perguntou-se se os outros "Eus" também cometiam os mesmos erros e acertos que ele, um dia, cometeu.

Sentou-se à beira da janela, sentiu a brisa noturna acariciar suas bochechas e balançar uma mecha do cabelo que deslizava, teimosa, na sua testa. "O que os outros "Eus" estão fazendo agora?" Perguntou à si mesmo, num tom irônico, tentando achar alguém pra compartilhar aquelas coisas. 

Deitou-se em sua cama com a janela entreaberta, ainda enxergando algumas estrelas naquele céu límpido. Suspirou forte, virou-se para o lado e, rindo, disse:

"Nenhum "Eu" é mais importante do "Eu" que existe aqui dentro"


25 novembro, 2010

Quem eu sou?

De repente olhou-se no espelho e não teve certeza do que viu. Pode ter se perguntado: "Quem eu sou?". Pode ter percebido que viveu a vida no modo automático, seguiu o modelo lógico de estudar-ganhar dinheiro e agora não sê vê mais fora disso. Abriu a janela e viu a luz do luar invadir e tomar o quarto escuro aonde todos os dias se deitava e aonde aquela pergunta fatídica teimava em assolar os seus pensamentos: "Quem eu sou?". Perguntou-se se a dança da vida arrumou um bom par para ele. Questionou seu próprio modo de ver o mundo e descobriu que quase nunca esteve certo. Percebeu que nesse tempo todo foi manipulado por um Monstro Invisível que o dizia pra onde ir, com quem ter amizades e com o que rir e chorar. Sentiu-se num teatro de fantoches. Enquanto isso a luz da lua perguntava: "Quem é você?"

Perguntou-se se poderia tomar outro caminho, preferir o branco ao invés do preto, a luz ao invés das trevas à exemplo daquelas trevas aonde se encontrava naquele momento, observando as nuvens passarem na frente da lua e ver o quarto escurecer e clarear, quase imperceptivelmente.

“Quem eu sou?”

Levantou-se, foi ao banheiro e lavou o rosto. Olhou no espelho e em seus olhos e disse: "Talvez não precise ser alguém"

21 novembro, 2010

Aprendeu que...

...aprendeu com essas coisas a importância de valorizar à si mesmo. Aprendeu a importância de cada amanhecer e anoitecer. Aprendeu a importância de um dia após o outro dia. Aprendeu que não é o mesmo de ontem e nem será o mesmo amanhã. Aprendeu que o seu “sofrimento” pode ocultar uma enorme vontade de viver e experimentar coisas e que esse sofrimento é inútil comparado à quem mora na rua e a próxima refeição é incerta. Aprendeu com isso que talvez ele cobre muito de si mesmo e faça muito pouco. Descobriu que tem tudo ao seu redor e ainda reclama como um bebê chorão. Aprendeu que não dá pra viver baseado em frases prontas.

Mas acima de tudo, descobriu que não pode viver a vida de outra pessoa. Que tem que descobrir a verdadeira essência do seu ser. E que ainda é muito novo pra pensar nessas coisas. Se viu no auge dos seus 19 anos com crise de meia-idade, ora pois! Descobriu que ainda tem um chão longo pela frente, ou não, pois descobriu que a morte não escolhe suas vítimas à dedo. Sabe que, querendo ou não, muitas pessoas vão entrar e sair da vida dele, talvez algumas fiquem, outras não... não cabe à ele fazer julgamento a essas coisas. Pois nem ele mesmo decide o próprio destino. Cabe à ele viver a vida, do jeito que ela vier, sem guardar ressentimentos, mágoas, ódio e tristezas sobre ninguém.

Escrever uma página nova no livro da vida, todos os dias, até que ele chegue na sua última página.