26 setembro, 2010

Damião


Pro inferno com a opinião dos mais velhos, mas cá entre nós, rotina de jovem não é fácil: Acordar cedo e sempre atrasado, sair de casa sem comer, as vezes, agüentar ônibus lotado, gente chata e chefe mala-sem-alça no trabalho, emendar a faculdade depois de um dia inteiro de trabalho, chegar em casa e ter que ir estudar, dormir só após à 01:00 é uma tarefa diária heróica. Ontem mesmo um amigo meu me disse que uma senhora cedeu para ele o lugar reservado para ela, pois ele demostrava um cansaço anormal, típico nosso. E ainda dizem que somos preguiçosos. E, como sacanagem do destino, viver sem dinheiro só ajuda a piorar essa história.
 
Uma das pessoas que me ajudam a agüentar essa rotina é o Damião. O Damião é o senhor de alguns 55 anos de idade, com os cabelos predominantemente grisalhos e que serve café na empresa.  Ele introduziu (UI!) um novo vício na minha vida: a Cafeína. Todo dia quando ele passa pela “minha” sala, deixa uma xícara e dois copinhos plásticos pequenos com café em cima da minha mesa. Ele deve passar umas quatro ou cinco vezes por aqui, nunca parei pra contar. As vezes ele acomoda a bandeja com as xícaras sobre a minha mesa e abre a persiana da janela, fica por alguns minutos contemplando a paisagem urbana e conversando comigo:

- “Paulinho, a Chácara lá ta quase pronta, coloquei uns ladrilhos no jardim e na entrada da porta, ficou bonito. Final de semana teve um churrasco lá, passei o final de semana inteiro relaxando por lá. E o seu final de semana, como foi?”

Além do café (que me ajuda a não entrar em coma por causa da privação de sono), ter uma pessoa convivendo com você, que vem na sua mesa pra conversar e não pra pedir coisas e favores, me faz sentir prazer acordar cedo e passar por todos os perrengues pra chegar aqui na hora. O café e o convívio com ele servem como recompensa por tudo isso. Ele me ensina, dia após dia, a ser uma pessoa mais humilde, a dar valor para as coisas simples e a parar de reclamar de tudo e de todos por besteiras.

A maioria das pessoas que vem na “minha” sala tem o seguinte diálogo:
 
“Oi Paulo, tudo bem? Que bom... então, [pedido, favor, reclamação, xingamento, crítica].”
 
Um colega de trabalho meu, quando alguém diz isso pra ele, corta a fala da pessoa e diz logo:
- Prossiga!
 
Mas isso é história pra contar depois.

Acabei de almoçar... queria um café do Dami agora...


21 setembro, 2010

Tudo no lugar

Antes de tudo, não sei. Não sei se é viagem minha ou só mais uma coisa delirante, de muitas que eu escrevo aqui, mas sabe quando você acorda de manhã e já se sente bem? Você abre a janela e vê o céu daquele jeito, daquela cor que você sempre gostou, da cor que você via quando saia na rua pra brincar, já é um bom motivo pra começar bem o dia. Todo dia quando eu acordo de manhã cedo, a primeira coisa que eu faço é abrir a janela do meu quarto e colocar a cabeça pra fora dela pra ser ofuscado pela luz do sol, que já brilha forte naquela hora. Fico ali por uns cinco, dez minutos, olhando as coisas e o vento à bater na arvoré em frente a minha casa. É uma bobagem, eu sei. Mas de alguma forma isso me faz sentir grato por estar ali pra ver essas coisas. E quando eu saio pra ir pro escritório, tudo está daquele jeito que me faz lembrar das coisas que eu vivi quando era moleque. E de noite eu repito o mesmo ritual: Antes de dormir, abro a janela e fico olhando à noite, a lua, que já repousa elegante no céu.

Tudo está como deveria estar. Talvez eu esteja no lugar, apesar de tudo.

13 setembro, 2010

Nem tudo é como a gente quer?

Quantas vezes já não ficamos irritados por uma coisa não ter dado certo? Quantas vezes não ficamos frustrados por perder o horário para ir trabalhar, quando chove, quando faz sol demais, por esquecer alguma coisa em casa, por esquecer de fazer alguma coisa, por não ter tempo pra nós mesmos?

Uma pergunta que eu sempre faço pra mim mesmo é como chegamos nesse estado, onde tudo que fazemos parece não nos agradar da forma que deveria. Somos insatisfeitos por natureza, por adaptação, e um sintoma básico disso é reclamar de tudo e de todos.
Mesmo que essa coisa seja explendorosa, fantásica, sempre parece que ainda está faltando alguma coisa, um pequeno detalhe que passa despercebido, coisa essa que sempre nos deixa desconfiado e com uma preocupação latente.

Não me lembro da última vez que fiquei extremamente irritado com alguém ou alguma coisa. A raiva é como uma válvula de escape que deixa sair tudo de ruim que temos dentro de nós e, as vezes, a nossa raiva é a satisfação de outra pessoa.

Percebem, caras pálidas: essa é a lógica das coisas: Se esta bom pra mim, está ruim pra você e está horrível pra outrem. Essa coisa de estabelecer um padrão comum de vivência, de pensamentos, de religiôes não dá certo, nunca deu. O problema é o mesmo que eu já venho pensando à algum tempo: Aqui vive muita gente! Não saiu o último Censo ainda, mas devemos ser mais de 190 milhoes: Mais de 190 milhoes de opiniões, mais de 190 milhoes de jeitos de fazer a mesma coisa, de achar o que esta certo, errado, e do que esta errado, certo.

De fato, engolimos sapos e mordemos lábios frustrados todo dia, mesmo que inconscientemente. Exemplo: olhe pra onde você está... você queria estar nesse lugar? Você queria ir para o próximo lugar que você vai após este? Aonde você queria estar agora? Sozinho ou com alguém?

Eu queria estar em algum lugar fotografando coisas como essa:
To levando mesmo essa história de fotógrafo à sério...



















Vivemos um padrão básico de vivência social que exige que tenhamos escolaridade, que exige que trabalhemos 8 horas por dia e que tenhamos dinheiro, muito, se possível. O ruim disso tudo é que discordamos da intensidade desse modo de vida, mas seguimos a regra por instinto de sobrevivência. Quem não queria trabalhar 2 dias na semana e folgar os outros 5? Esse modo de vida cria pessoas estressadas e quase sempre chateadas por não saberem direito aonde querem e onde vão chegar com toda essa loucura. A frustração pelas coisas corriqueiras esconde essa incerteza.


Mas o que, de fato, você quer?


08 setembro, 2010

O dia em que voltei de férias


Acabou a moleza. Depois de "curtos" 30 dias cá estou, de volta a rotina maçante de escritório: E-mails que chegam, telefone que não para de tocar, usuário irritado, servidor que dá problema, redes sem conectividade, o iPad do presidente que não conecta. É tenso, mas tudo isso me faz sentir mais vivo. Adoro o cheiro de problema pelas manhãs. Eu tenho uma teoria sobre quem trabalha com TI: É uma maldição! Você pensa que sabe tudo, mas não sabe nada.

Eu, sinceramente, saí de férias no dia 08/08 sem saber o que ia fazer. Não tinha planos pra viajar, a maioria dos meus amigos estava trabalhando. Meus planos eram: acordar tarde (muito tarde, algo em torno de 14:30), assistir Big Bang Theory e Friends enquanto me entupia de pipoca e ficava pensando na quantidade de e-mails que ia ter que ler e a fila de chamados crescendo em escala planetária e na falta que eu ia fazer na empresa.

De fato, acordei tarde nesses dias, nos primeiros dias. mas não fiquei vegetando em frente à TV. Uma coisa estranha é que meu celular nunca tocou tanto que nem nessas férias, meus e-mails pessoais nunca ficaram tão interessantes. Achei coisas pra fazer, lugares para ir, conversei mais com amigos novos. Investi tempo e dinheiro no meu hobby (fotografia). Falando em dinheiro, nunca gastei tanto dinheiro como nesse último mês: foi algo em torno de 250 com baladas, 200 com a viagem que eu fiz com os manolos pro litoral... melhor parar de fazer contas. Mas f*da-se, vou ter história pra contar pra minha futura filha (não, ainda não sou pai e, quando for, quero uma menina). 
Eu sentia falta de casa. Sair de casa cedo e voltar tarde só pra dormir é complicado. Querendo ou não, um pedaço de você vive (ou costumava viver) naquele lugar. There's no place like home. Lembrei das minhas épocas da escola, na oitava série mais precisamente: Acordava cedo pra ir pra escola e quando era 12:00 eu já estava em casa, almoçando e assitindo televisão com a minha mãe. Dormia até as 15:30 e acordava com os meus amigos batendo no portão da minha casa, ponto de encontro de toda a "galera" naquela época. Sentei no sofá por uns instantes e fiquei contemplando o chão de madeira, imerso naquela corrente de lembranças que parecia não ter fim.

Hoje, 08/09, acordei com aquela clássica "ressaca" de pós-feriado, mas tive coragem de levantar da cama seduzido pelo cheiro de café. Quando cheguei no escritório, todo mundo vinha me perguntar: "Nossa, voltou de férias? Como foi? Viajou? Descansou bastante?" Outros diziam: "Tirou 30 dias de férias? Parecem que foram 6 meses!" Aqui tem gente que não se permite tirar férias, assume tanta responsabilidade que acaba ficando fora de si, respira trabalho e perde o equilíbrio pessoal-profissional. Enfim... não é o meu caso. Ainda não cheguei e nem quero chegar nesse ponto. Não coloco meu trabalho num pedestal.

E já estou contando os dias para as minhas próximas férias... porquê faltam só 364.

That’s all folks and let’s get back to work!