30 janeiro, 2011

Procura-se

Nesse final de semana, achei algo que há muito tempo vinha procurando, mas sem sucesso. Foi na simplicidade do sol nascente batendo atrás de uma montanha e lançando um vermelho-com-rosa claro no céu, a calmaria do mar e algum tempo, mesmo que sejam cinco minutos, sozinho que eu acabei encontrando.

Pensei na loucura do dia-a-dia, na correria, nos problemas, nos telefonemas, nos e-mails. Pensei no martirio que é viver numa grande cidade, aonde você não pode parar.

Como poderia ficar tanto tempo longe disso, nessa procura?

Olhei para o céu, naquele tom de vermelho-com-rosa claro, deixei o corpo boiar sobre o mar que mal se mexia.

E realmente percebi que havia encontrado.

Encontrei o nada.

12 janeiro, 2011

Persona

Somos seres humanos. Somos a única espécie com o poder de pensar, imaginar, perceber sentimentos. Somos a espécie que consegue se recriar todos os dias. Criamos um conceito todo particular da vida e como leva-lá.

Não, não, hoje não vou falar de como você leva a sua vida, até mesmo porquê venho pensando muito sobre como levo a minha própria vida de uns tempos pra cá. Mas dos papéis que assumimos durante esse "processo" que chamamos de viver.

Vivemos acreditando que somos independentes, que somos aquele diamante polido em meio à um lamaçal. Acreditamos que somos o ser imune, livre de culpa. Acreditamos que temos o poder de controlar o mundo, o nosso mundo, o mundo de outra pessoa. Eu ainda vou descobrir porquê nos achamos especiais, quando na verdade não somos. Deve ser aquele tão falado ego.

E quando acontece alguma coisa? Aí nos vemos com aquele pensamento de "Ah, por que isso foi acontecer comigo?! Eu sou tão certinho! Não faço nada de errado! Aqui fazemos o papel de inocentes ou de "ultima bolacha do pacote".


E quando decidimos ficar com raiva do mundo? Inventamos desculpa esfarrapada pra descontar a raiva no primeiro que vier pela frente. "O mundo é uma desgraça, esse lugar é injusto, desumano, sem sentido" Aqui, fazemos o papel de vítima.

Há muitos outros muitos papeis que são protagonizados, dia após dia nesse teatro. Papeis que não fazem sentido. Aliás, nada faz sentido aqui. Talvez não deva ter sentido mesmo. Usamos máscaras que escondem o que realmente sentimos e o que somos. Muitos ainda não sabem o que ou quem são.

Qual você vai usar hoje?

Mas há uma coisa que pulsa dentro de você, um frenesi que te empurra pra frente, te levanta toda manhã e tira o seu sono de noite, dizendo que você tem que viver, ou sobreviver. De alguma forma, não importa qual: você tem que ser algúem, mesmo que você não goste do que vai se tornar. Esses papeis que vivenciamos mostram esse desejo pulsante pela "auto-afirmação". Mostram o nosso desejo de provar para o mundo que estamos vivos.

Só não nos damos conta de que o tão falado Mundo não existe! O que existe mesmo é aquele mundo que existe dentro da gente. A parte de nós aonde ninguém mexe, ninguém sente, ninguém julga e ninguém vê nada. Aonde as mascaras caem. É esse mundo que molda o "mundo" que existe lá fora. Porém, somos capazes de viver fora dele tentando provar algo pra alguém e esquecemos de provar algo para nós mesmos.

Viver para ser rico, ter cobiça, bens materiais, status, ser magro, atlético... ou deixar o ator coadjuvante sair de cena para se encontrar com o real protagonista dessa história?

Escolha bem. Uma decisão sábia fará todo o resto lhe ser adicionado com o tempo.

04 janeiro, 2011

Você não se permite

Você não se permite mais andar sem destino, não se permite mais sentir o frio que sobe pelas pernas ao andar do pé descalço no chão gelado, não se permite mais sentir o vento bater no seu rosto e balançar aquela mecha do seu cabelo que, teimosa, dança na sua testa, não se permite mais sentir o arrepiar da pele, o suspiro profundo, sincero, com razão. Você não se permite experimentar algo novo sem medo de se arrepender, se machucar, sem medo de viver. Você não se permite mais chorar, deixar a tristeza dominar o recôndito da sua alma, lugar aonde você mesmo talvez nunca tenha ido e sentir o desgosto da dúvida, da incerteza, do não saber no que vai dar. Não se permite sentir se assim pelo menos um dia na sua vida.

Você se permite andar por onde não quer, sentir o gosto ruim da culpa por não ser quem você queria ser, prefere sentir-se numa embriaguez mental e iludir-se com coisas mundanas. Você se permite viver com o que é velho, se limita só às coisas que conhece e ao seu mundo fechado, criou padrões e segue-os a risca e sabe que não sabe o porquê disso tudo. Permite-se chorar por motivos tão vagos, sentir-se responsável como uma pessoa de trinta, quarenta, cinquenta anos e pula fases da sua vida que implora, grita dentro de si, clamando por atenção. 

Permite-se viver nesse marasmo e comodismo louco que costuma chamar de vida.