23 março, 2011

Alto-mar

Ele queria sumir por um tempo. Esquecer, nem que fosse por curtos cinco minutos do que é, pra que e pra quem vive e pra onde tinha que ir. Queria perder a mania tola de querer saber tudo, de ficar perguntando e duvidando. Cético! Queria ter mais fé pra acreditar que as coisas podem ser (e são) mais fáceis.

Queria sair. Andar por aí sem nada na cabeça, sem destino, sem prestar atenção em nada e sem hora pra voltar.


Confuso, suas perguntas chamavam outras muitas perguntas. Sua vida confundia-se num mar de Interrogações e Reticências. Às vezes batia de frente consigo mesmo, numa colisão insana de idéias, pensamentos, desejos. Sempre um contra o outro, numa briga contra si mesmo. Briga interna que há tempos tentava apartar.

Não tinha entendido o porquê dela ter saído do carro tão espontaneamente naquela noite. Mal recordava o motivo da nova-velha briga, que já se arrastava por quarteirões desde quando ele a pegou, pontualmente, às 22:00 em sua casa. Mas a batida da porta estremeceu seu subconsciente. Fez-se uma tempestade no mar de interrogações e reticências. Conseguiu vê-la pegando o primeiro ônibus que passou pela esquina, pensou em segui-lo, mas também não sabia se devia ou não. "Talvez não valha tanto a pena... ou vale?"
Engatou a ré, manobrou o carro para o sentido contrário, quase batendo no carro estacionado na contra-mão e voltou para casa.

Não sabia o que ia acontecer naquela noite, não sabia se tudo havia terminado. Procurou não pensar muito nisso. Ligou a cafeteira, puxou uma cadeira e ficou olhando o pingar da bebida quente no frasco de vidro. A cada gota, uma pergunta que não havia sido respondida vinha a sua mente, uma questão não resolvida. A cada gota vinha uma incerteza, uma dúvida.
Sentiu o pulso disparar e de repente o ar ficou curto. Sentiu raiva, levantou, passou as mãos na cabeça e num movimento desajeitado, pegou a cadeira a atirou contra a parede.

Teve vontade de abandonar tudo, por os pingos nos "Is' por conta própria. Precisava resgatar aquilo que era. Precisava abandonar os questionamentos e começar a viver sem procurar respostas.
Quando estava quase ciente da sua decisão, sentiu o telefone vibrar dentro do bolso: Era ela.

Ainda ofegante, atendeu:

- Oi, não deveria ter me comportado daquele jeito, saindo do carro sem dar explicações, mas você me irritou. Te peço desculpas.

Respirou fundo e após um leve pigarreio, respondeu:


- Tudo bem, venha pegar suas coisas que estão comigo amanhã após as 14:00.

Desligou o celular, deixando-o sobre a mesa, pegou a chave do carro e saiu, sem destino.

2 comentários:

  1. Ana Paula M. Santiago23 de março de 2011 às 16:07

    Já passou da hora de vc. escrever um livro. Vc é fera nisso! Adorei.

    Bjs,Ana.

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  2. Concordo com a mocinha ai de cima , que tal da uma fim nessa história e nos contar que fim de a menina .

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