04 janeiro, 2011

Você não se permite

Você não se permite mais andar sem destino, não se permite mais sentir o frio que sobe pelas pernas ao andar do pé descalço no chão gelado, não se permite mais sentir o vento bater no seu rosto e balançar aquela mecha do seu cabelo que, teimosa, dança na sua testa, não se permite mais sentir o arrepiar da pele, o suspiro profundo, sincero, com razão. Você não se permite experimentar algo novo sem medo de se arrepender, se machucar, sem medo de viver. Você não se permite mais chorar, deixar a tristeza dominar o recôndito da sua alma, lugar aonde você mesmo talvez nunca tenha ido e sentir o desgosto da dúvida, da incerteza, do não saber no que vai dar. Não se permite sentir se assim pelo menos um dia na sua vida.

Você se permite andar por onde não quer, sentir o gosto ruim da culpa por não ser quem você queria ser, prefere sentir-se numa embriaguez mental e iludir-se com coisas mundanas. Você se permite viver com o que é velho, se limita só às coisas que conhece e ao seu mundo fechado, criou padrões e segue-os a risca e sabe que não sabe o porquê disso tudo. Permite-se chorar por motivos tão vagos, sentir-se responsável como uma pessoa de trinta, quarenta, cinquenta anos e pula fases da sua vida que implora, grita dentro de si, clamando por atenção. 

Permite-se viver nesse marasmo e comodismo louco que costuma chamar de vida.
 

28 novembro, 2010

Contador de Estrelas

Subiu de volta ao quarto. Não mais imerso naqueles pensamentos ruins que insistiam em martelar sua consciência, desligou o rádio, apagou a luz e abriu a janela. Viu o céu escuro, aberto, com tantas estrelas, mas tantas estrelas que se sentiu em outro lugar no espaço, em outra dimensão, em um universo paralelo, um universo só dele. Imaginou se haveria outros como ele em outras constelações, já que um ponto minúsculo no céu, visto daqui, pode ocultar um planeta semelhante a esse, com outros seres, talvez até iguais à nós. 
Perguntou-se se havia outros com os mesmos sonhos, pensamentos, ilusões, anseios, tristezas e alegrias que ele tinha. Perguntou-se se os outros "Eus" também cometiam os mesmos erros e acertos que ele, um dia, cometeu.

Sentou-se à beira da janela, sentiu a brisa noturna acariciar suas bochechas e balançar uma mecha do cabelo que deslizava, teimosa, na sua testa. "O que os outros "Eus" estão fazendo agora?" Perguntou à si mesmo, num tom irônico, tentando achar alguém pra compartilhar aquelas coisas. 

Deitou-se em sua cama com a janela entreaberta, ainda enxergando algumas estrelas naquele céu límpido. Suspirou forte, virou-se para o lado e, rindo, disse:

"Nenhum "Eu" é mais importante do "Eu" que existe aqui dentro"


25 novembro, 2010

Quem eu sou?

De repente olhou-se no espelho e não teve certeza do que viu. Pode ter se perguntado: "Quem eu sou?". Pode ter percebido que viveu a vida no modo automático, seguiu o modelo lógico de estudar-ganhar dinheiro e agora não sê vê mais fora disso. Abriu a janela e viu a luz do luar invadir e tomar o quarto escuro aonde todos os dias se deitava e aonde aquela pergunta fatídica teimava em assolar os seus pensamentos: "Quem eu sou?". Perguntou-se se a dança da vida arrumou um bom par para ele. Questionou seu próprio modo de ver o mundo e descobriu que quase nunca esteve certo. Percebeu que nesse tempo todo foi manipulado por um Monstro Invisível que o dizia pra onde ir, com quem ter amizades e com o que rir e chorar. Sentiu-se num teatro de fantoches. Enquanto isso a luz da lua perguntava: "Quem é você?"

Perguntou-se se poderia tomar outro caminho, preferir o branco ao invés do preto, a luz ao invés das trevas à exemplo daquelas trevas aonde se encontrava naquele momento, observando as nuvens passarem na frente da lua e ver o quarto escurecer e clarear, quase imperceptivelmente.

“Quem eu sou?”

Levantou-se, foi ao banheiro e lavou o rosto. Olhou no espelho e em seus olhos e disse: "Talvez não precise ser alguém"

21 novembro, 2010

Aprendeu que...

...aprendeu com essas coisas a importância de valorizar à si mesmo. Aprendeu a importância de cada amanhecer e anoitecer. Aprendeu a importância de um dia após o outro dia. Aprendeu que não é o mesmo de ontem e nem será o mesmo amanhã. Aprendeu que o seu “sofrimento” pode ocultar uma enorme vontade de viver e experimentar coisas e que esse sofrimento é inútil comparado à quem mora na rua e a próxima refeição é incerta. Aprendeu com isso que talvez ele cobre muito de si mesmo e faça muito pouco. Descobriu que tem tudo ao seu redor e ainda reclama como um bebê chorão. Aprendeu que não dá pra viver baseado em frases prontas.

Mas acima de tudo, descobriu que não pode viver a vida de outra pessoa. Que tem que descobrir a verdadeira essência do seu ser. E que ainda é muito novo pra pensar nessas coisas. Se viu no auge dos seus 19 anos com crise de meia-idade, ora pois! Descobriu que ainda tem um chão longo pela frente, ou não, pois descobriu que a morte não escolhe suas vítimas à dedo. Sabe que, querendo ou não, muitas pessoas vão entrar e sair da vida dele, talvez algumas fiquem, outras não... não cabe à ele fazer julgamento a essas coisas. Pois nem ele mesmo decide o próprio destino. Cabe à ele viver a vida, do jeito que ela vier, sem guardar ressentimentos, mágoas, ódio e tristezas sobre ninguém.

Escrever uma página nova no livro da vida, todos os dias, até que ele chegue na sua última página.

26 setembro, 2010

Damião


Pro inferno com a opinião dos mais velhos, mas cá entre nós, rotina de jovem não é fácil: Acordar cedo e sempre atrasado, sair de casa sem comer, as vezes, agüentar ônibus lotado, gente chata e chefe mala-sem-alça no trabalho, emendar a faculdade depois de um dia inteiro de trabalho, chegar em casa e ter que ir estudar, dormir só após à 01:00 é uma tarefa diária heróica. Ontem mesmo um amigo meu me disse que uma senhora cedeu para ele o lugar reservado para ela, pois ele demostrava um cansaço anormal, típico nosso. E ainda dizem que somos preguiçosos. E, como sacanagem do destino, viver sem dinheiro só ajuda a piorar essa história.
 
Uma das pessoas que me ajudam a agüentar essa rotina é o Damião. O Damião é o senhor de alguns 55 anos de idade, com os cabelos predominantemente grisalhos e que serve café na empresa.  Ele introduziu (UI!) um novo vício na minha vida: a Cafeína. Todo dia quando ele passa pela “minha” sala, deixa uma xícara e dois copinhos plásticos pequenos com café em cima da minha mesa. Ele deve passar umas quatro ou cinco vezes por aqui, nunca parei pra contar. As vezes ele acomoda a bandeja com as xícaras sobre a minha mesa e abre a persiana da janela, fica por alguns minutos contemplando a paisagem urbana e conversando comigo:

- “Paulinho, a Chácara lá ta quase pronta, coloquei uns ladrilhos no jardim e na entrada da porta, ficou bonito. Final de semana teve um churrasco lá, passei o final de semana inteiro relaxando por lá. E o seu final de semana, como foi?”

Além do café (que me ajuda a não entrar em coma por causa da privação de sono), ter uma pessoa convivendo com você, que vem na sua mesa pra conversar e não pra pedir coisas e favores, me faz sentir prazer acordar cedo e passar por todos os perrengues pra chegar aqui na hora. O café e o convívio com ele servem como recompensa por tudo isso. Ele me ensina, dia após dia, a ser uma pessoa mais humilde, a dar valor para as coisas simples e a parar de reclamar de tudo e de todos por besteiras.

A maioria das pessoas que vem na “minha” sala tem o seguinte diálogo:
 
“Oi Paulo, tudo bem? Que bom... então, [pedido, favor, reclamação, xingamento, crítica].”
 
Um colega de trabalho meu, quando alguém diz isso pra ele, corta a fala da pessoa e diz logo:
- Prossiga!
 
Mas isso é história pra contar depois.

Acabei de almoçar... queria um café do Dami agora...


21 setembro, 2010

Tudo no lugar

Antes de tudo, não sei. Não sei se é viagem minha ou só mais uma coisa delirante, de muitas que eu escrevo aqui, mas sabe quando você acorda de manhã e já se sente bem? Você abre a janela e vê o céu daquele jeito, daquela cor que você sempre gostou, da cor que você via quando saia na rua pra brincar, já é um bom motivo pra começar bem o dia. Todo dia quando eu acordo de manhã cedo, a primeira coisa que eu faço é abrir a janela do meu quarto e colocar a cabeça pra fora dela pra ser ofuscado pela luz do sol, que já brilha forte naquela hora. Fico ali por uns cinco, dez minutos, olhando as coisas e o vento à bater na arvoré em frente a minha casa. É uma bobagem, eu sei. Mas de alguma forma isso me faz sentir grato por estar ali pra ver essas coisas. E quando eu saio pra ir pro escritório, tudo está daquele jeito que me faz lembrar das coisas que eu vivi quando era moleque. E de noite eu repito o mesmo ritual: Antes de dormir, abro a janela e fico olhando à noite, a lua, que já repousa elegante no céu.

Tudo está como deveria estar. Talvez eu esteja no lugar, apesar de tudo.

13 setembro, 2010

Nem tudo é como a gente quer?

Quantas vezes já não ficamos irritados por uma coisa não ter dado certo? Quantas vezes não ficamos frustrados por perder o horário para ir trabalhar, quando chove, quando faz sol demais, por esquecer alguma coisa em casa, por esquecer de fazer alguma coisa, por não ter tempo pra nós mesmos?

Uma pergunta que eu sempre faço pra mim mesmo é como chegamos nesse estado, onde tudo que fazemos parece não nos agradar da forma que deveria. Somos insatisfeitos por natureza, por adaptação, e um sintoma básico disso é reclamar de tudo e de todos.
Mesmo que essa coisa seja explendorosa, fantásica, sempre parece que ainda está faltando alguma coisa, um pequeno detalhe que passa despercebido, coisa essa que sempre nos deixa desconfiado e com uma preocupação latente.

Não me lembro da última vez que fiquei extremamente irritado com alguém ou alguma coisa. A raiva é como uma válvula de escape que deixa sair tudo de ruim que temos dentro de nós e, as vezes, a nossa raiva é a satisfação de outra pessoa.

Percebem, caras pálidas: essa é a lógica das coisas: Se esta bom pra mim, está ruim pra você e está horrível pra outrem. Essa coisa de estabelecer um padrão comum de vivência, de pensamentos, de religiôes não dá certo, nunca deu. O problema é o mesmo que eu já venho pensando à algum tempo: Aqui vive muita gente! Não saiu o último Censo ainda, mas devemos ser mais de 190 milhoes: Mais de 190 milhoes de opiniões, mais de 190 milhoes de jeitos de fazer a mesma coisa, de achar o que esta certo, errado, e do que esta errado, certo.

De fato, engolimos sapos e mordemos lábios frustrados todo dia, mesmo que inconscientemente. Exemplo: olhe pra onde você está... você queria estar nesse lugar? Você queria ir para o próximo lugar que você vai após este? Aonde você queria estar agora? Sozinho ou com alguém?

Eu queria estar em algum lugar fotografando coisas como essa:
To levando mesmo essa história de fotógrafo à sério...



















Vivemos um padrão básico de vivência social que exige que tenhamos escolaridade, que exige que trabalhemos 8 horas por dia e que tenhamos dinheiro, muito, se possível. O ruim disso tudo é que discordamos da intensidade desse modo de vida, mas seguimos a regra por instinto de sobrevivência. Quem não queria trabalhar 2 dias na semana e folgar os outros 5? Esse modo de vida cria pessoas estressadas e quase sempre chateadas por não saberem direito aonde querem e onde vão chegar com toda essa loucura. A frustração pelas coisas corriqueiras esconde essa incerteza.


Mas o que, de fato, você quer?